terça-feira, 2 de outubro de 2007

Perspectiva maternal.

O ventre doía-lhe. Não podia compreender como aquelas palavras desferidas por alguém que tanto amava podiam causar-lhe tamanho dano. Seria a dor do parto? Sim, estava segura. Suplicava silenciosamente por auxílio e a verborragia diante dela não acatava seus gritos. Desesperada, decidiu fingir-se de muda, morta talvez. Inexpressiva, fitava o nada, como se criança fosse, e deixava-se levar pelo ruído bonito que as palavras duras produziam. Subitamente, a cachoeira de sons se transformou num silêncio infinito, um grande vazio que até hoje não consegue explicar; está a pairar por esse abismo, onde tenta nada tocar, para que não se desperte e atribua à consciência seu devido pesar.