sábado, 14 de novembro de 2020

Dos 33.

Sim, anos. Alguns bem vividos, outros mal passados, mas todos intensos de um jeito que só eu sei viver. 

É interessante ver as voltas da vida, sentir as alegrias que a maturidade traz, rasgar menos minhas entranhas com aquilo que não merece.

Nesse paradoxo de comemoração entre consumos, salvo a quem me protege, a quem me quer bem, a quem permanece aqui por mim e apesar de mim.

Amores vem e vão, amizades mudam e se mudam, a vida inevitavelmente passa, eu só posso dizer que vivo, vivi e viverei.

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sábado, 12 de setembro de 2020

De espantar os fantasmas.

Seja com grito, sorriso ou gargalhada, não importa. Os trabalhos de espanto vieram mesmo pela entrega do sentir, do afeto, do toque, do cafuné no cachorro.

Viver precisa voltar a ser essa experiência meio esquisita de deixar acontecer e me permitir sentir. A cabeça de planilha não conhece sentimento, ela sabe muito bem se aproveitar da sensação, mas não permite aprofundar as indeléveis nuances da condição humana.

Entre ser, ter e estar, fui esquecendo da minha constituição como ser que ama.

Agora espero por mais dias assim, ainda que confusos pelo caos do mundo, cheios de sol, calor, mar e alegria. Que as anestesias não sejam necessárias e que, quando existirem, tenham utilidade de delícia.

Me saber capaz da vida é uma dádiva sem fim, agradeço hoje por ter o que agradecer, por estar inteiro em mim mesmo (com todas as partes que faltam).

Quero continuar assim, com coração mole o suficiente pra acreditar, mas com casca o bastante pra me proteger.


domingo, 28 de junho de 2020

Dos outros que foram os mesmos.

Os grandes medos da falta tem me definido ultimamente. Poucos amigos sobraram, os amores declarados em tempos de suposta normalidade se tornaram frágeis e creio que se quebraram há tempos.

Talvez seja a hora de recomeços, de reconfigurações de alma. Os prazeres e desejos que nos uniam ficaram num ponto de história da qual eu não faço mais parte e, no fim, tudo bem. As recargas de amor, admiração e aceitação que vinham dos afetos depositados na confiança da rede de segurança se perderam, talvez tenhamos atingido nossos limites.

Eu falhei e falho nesse caminho, mas não posso deixar de enxergar o abandono que se fez presente. Não posso deixar de ver que a disponibilidade de colo escolhido já não existe. Por mais que não queira aceitar, as trocas minguaram, os segredos se perderam e as vontades se esvaíram.

Encastelado entre os hipsters e os velhos que reproduzem as minhas próprias chatices (talvez por isso me incomodem tanto), me vejo cansado de pedir socorro agarrado à minha boia para sobreviver aos fantasmas que não se espantam sem companhia.


quinta-feira, 25 de junho de 2020

Do desejo.

Sim, da radicalidade, do que vem de dentro, é meu.

Sempre é difícil lidar com os conflitos internos, as eternas faltas do eu, se deparar com elas na constância com que elas se apresentam. Assustador não deixar a sensibilidade passar do limite da superfície, a profundeza que ela habita não se revolve sem trabalho.

Chegar a questionar as faltas me levou a entender que não as conheço claramente e que impedir meu próprio acesso ao inferno me impede também de movê-lo.

Hoje volto aqui com a certeza de que sei menos ainda, mas começo a reconhecer que preciso escolher um caminho. Paro eu ou para a vida, é isso.

Eu não quero que a vida pare, eu faço minha parte para a vida andar, só existe uma parte de mim que não conhece a trilha e ouve gotas pingando na pia da cozinha. E se incomoda. E tenta descobrir de onde veio, até pensar que pode ter vindo de dentro da cabeça. Aí, mexe nas louças sujas e acha que resolveu o problema. Dá dois passos e ouve a gota de novo. Confirma, coisa da cabeça.

Volta aqui, senta mais uma vez pra deixar o pensamento escorrer enquanto os pés incomodam porque lhes falta circulação. O nariz pede descanso e rinoplastia. A pele só não chora porque lhe falta água. O cabelo rareia e se espalha cada vez mais pela casa. Manchas, vincos, dores, tudo que esse corpo vem ganhando são esquisitices quase estrangeiras pra quem quase nunca parou pra se olhar e conseguiu se enxergar pelo que é (generosidades e crueldades incluídas).

Chega uma mensagem amiga. O app apita pro sexo fácil sem troca. Escolho mais uma linha, um cigarro, um incenso, meio beck, gotas de rivo, banho e cama.




domingo, 17 de maio de 2020

De quarentenar.

Nos indeléveis desejos da solidão imposta, vou me refazendo de peças de areia, insustentáveis por natureza.

 As esperanças sem fim de um amor que exista e dure são boicotadas por mim e pelo outro com nossos narcisismos intermináveis. Tem gente que vem assim de supetão e fica, não sei nem se esse ficou, mas matou muitas carências no meio do caminho. Que época doida pra sentir.

 Agora com o cheiro de outro no nariz e também o gosto dele na boca, me entristece não lembrar dos seus. No entanto, a tristeza é mais de lembrar do cafuné, da presença e talvez até do egoísmo que se mostrou por aí. Tenho medo da minha abertura. Tenho medo dessa confiança que eu deposito em quem apenas fez chegar, mas também tenho a certeza que não sei viver diferente e de que é mais importante aceitar o que mostro e sou.

Finalmente tenho algumas fundações nesse chão onde piso, meu ego já não está à deriva das paixões bandidas e, apesar de gostar demais delas, os ventos que as levam tem me pegado de velas recolhidas ou a meio mastro.

 Tem um oceano por aí, por mais que nesse momento esteja preso no meu barco, ele segue firme na direção que escolhi. Algum dia alguém embarca.

 [+] Snoop Dog feat. Bruno Mars - Young, Wild and Free

domingo, 12 de janeiro de 2020

Da brisa egoica.

Eu quis dizer que não, na verdade eu disse que não do meu jeito, de tentar te fazer refletir sobre o quanto espaços e atenções importam, sobre o que é esse peso de carregar um compromisso que escolhi mas que me dá poucos espaços de ser só.

É isso, talvez o vício a esse espaço e essa ruptura que você propõe quando diz o seu desejo diferente do meu façam com que eu me renda a isso que a gente sente de amor. Difícil é ser sensato e generoso e arrimo sempre. Eu nunca quis ser pai de ninguém, eu nunca quis dar a decisão, ainda acredito que as coisas moram na filosofia.

Meu medo é que você não consiga dissociar seus desejos da minha figura e presença, que eu precise estar nessa posição de salvador que eu não consigo nem ter pra mim. Mas o ego, esse filho da puta que faz parte de mim, não deixa que eu chegue à infeliz conclusão de que as balanças sempre vão estar a meu favor, porque privilégios não são assim dissociáveis e que a gente não consegue desfazer a injustiça do mundo nem dentro daquilo que deveria ser mais simples (ou não) em casa.

Aí amor e dor rimam, eu ainda sou amor, mas da cabeça aos pés sobrou muito pouco, a carapaça endureceu e não consigo ser esse ser iluminado lá nesse altar fictício, falta muito (não cometa esse erro, não me coloque lá).

Nem tudo fica mais bonito quando você está por perto, mas na maior parte do tempo fica. E nessa parte eu fico feliz, o resto não importa, e sinto que essa maior parte de tempo não seja onde você quer estar (o maior medo é que você nem saiba das possibilidades que existem e, por não saber, tampouco reconheça o próprio desejo).

Queria mesmo ser capaz de fazer você trilhar esse caminho, mas eu e ninguém será capaz enquanto você não decidir tomar essas rédeas. Elas são suas, assuma, faça, realize, você é capaz.

Perca o medo do escuro, do desconhecido, das armadilhas da vida. Seu caminho é de luz, trilhe. Vou estar aqui, mas não posso te conduzir, só te apoiar. Voa longe, espero que a gente  consiga voar lado a lado.

Te amo.

[+] Caetano Veloso - You don’t know me
[+] Gilberto Gil - Esotérico